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TODOS PAGAM O PREÇO

A situação é grave! A pandemia pode desencadear uma crise econômica global, destruindo até 25 milhões de empregos em todo o mundo se os governos não agirem rapidamente para conter o vírus, informou a Organização Internacional do Trabalho.

O surto atingiu serviços e o consumo, o que afetou companhias aéreas, hotéis, restaurantes e shoppings centers. O choque de oferta e demanda agora se torna globais e não devemos esperar que isso seja contornado em tão pouco tempo. O efeito disso é o abalo nos mercados financeiros trazendo uma volatilidade sem precedentes.

Espirros têm causado estragos inimagináveis num sistema econômico que transforma ações em queda, gerando uma gangorra desenfreada propensa a desastres porque não se investe em serviço público adequadamente. Com isso, todos, em exceção pagam o preço.

Casamentos sendo desmarcados, cortinas sendo fechadas e milhares de teatros e cinemas derrubando bilheterias. Logo mais veremos lojas dispensando funcionários com medo do impacto financeiro.

A China recebeu duras críticas porque autoridades em Wuhan encobriram alertas sobre o surto. Esse atraso agravou o bloqueio necessário para controlar o vírus. O que acreditavam que seria algo contornável numa pequena região da China, e depois da devastas mortes na Itália, o resto do mundo começaram a se movimentar e perceber a dimensão do problema. E nesse caos todo descobrimos um mundo vulnerável, onde parte da população tem que ficar em isolamento. O descaso na Itália resultou em médicos tendo que decidir quem vive e quem morre.

Um estudo realizado pela Imperial College de Londres estima aproximadamente 2,2 milhões de mortes no Estados Unidos e outras 510 mil no Reino Unido, caso os países e seus cidadãos não tomem medidas para conter o vírus.

De acordo com informações divulgadas pela El País, a chave para frear um surto é reduzir o ritmo de crescimento dos casos. A situação da Coreia do Sul é ilustrativa para esse ponto. Porque as infecções deixaram de aumentar de forma exponencial em meados de fevereiro, quando a quarentena e as medidas de distanciamento fizeram efeito.

Mas ainda sim em países europeus o vírus ainda está em expansão.  Na Itália, os casos eram de 70 no início do surto, passaram para 500 na segunda semana e atingiram os 1.700 na terceira. França, Espanha e Alemanha crescem num ritmo parecido como a Itália.

A preocupação de cientistas se esbaram em dois pontos: o primeiro é que as mortes costumam chegar com atraso e por pessoas que não tinham sido diagnosticadas. O segundo ponto é que se a mortalidade gira em torno de 1%, detectar um morto implica ter cerca de 100 infectados há três semanas.

A notícia invisível, como o vírus, é que estamos descobrindo o significado de união da pior maneira possível. Talvez nesse insight façamos um exame interno a fim de encontrarmos a causa dos distanciamentos familiares que as conexões tecnológicas têm nos proporcionados. Porque agora estamos todos impossibilitados ao toque por tempo indeterminado.

Ainda há esperança. E ela chega ao vermos histórias como aconteceu na Itália e na Espanha, quando as pessoas saiam às sacadas para cantar juntos, ainda que distante. Não importa o quanto relutemos: ninguém sobrevive sem a arte.

Talvez o isolamento nos sirva para refletirmos sobre a inconstância que é a vida. Que o exílio nos mostre o quanto somos insignificantes, pois o risco sombrio é perder as memórias daqueles que nos cercam hoje.

Tudo isso vai passar. O que me intriga é que o único jeito eficaz, no momento, para contornar essa situação é o convite a ficar em casa. Que o recolhimento fortaleça nossa imunidade. Porque a cura para a maioria das doenças nunca ficou tão clara diante de nossos olhos: o contágio da união e a sensibilidade.

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Leandro Salgentelli nasceu em Jundiaí (SP), em 25 de setembro de 1994. É jornalista e especialista em Cultura Material e Consumo pela USP. Foi vencedor de dois prêmios nos gêneros crônicas. Atualmente, trabalha com assessoria de Relações Públicas Instituicionais.

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