A greve e suas complexidades
As coisas tendem a piorar! Os Petroleiros já marcaram greve, assim como motoristas das vans escolares. Manifestações ocorrem em todo o território nacional. O Brasil precisava mesmo dessa chacoalhada. Já tive a oportunidade de conversar com caminhoneiros e sei o quanto sofrem: pistas esburacadas, assaltos em rodovias, dias fora de casa, sem um banho decente. Ficou claro o quão são cruciais para a economia. Eles estavam no seu limite. Que bom que isso explodiu. Quem bom que as pessoas foram às ruas. Mas tenho ressalvas.
Todos sabem que o Brasil vive em déficit. Que o atual presidente nunca foi legítimo. Que tirou recursos de projetos sociais que até pouco tempo eram financiados pelas Estatais. E, como esperado, vive gastando em propaganda. Nada é novidade.
Mas como jornalista, e crítico desse meio, é preciso reavaliar o papel da Imprensa. As pessoas procuram os meios de comunicação para dar voz ao caos. A gente sabe que esse meio também nunca foi legítimo. A gente sabe que a Imprensa nunca resolveu problema algum, então por qual motivo recorrer a ela? Por que a gente insiste nisso?
A mídia escolha a forma mais sofisticada de como chamar os caminhoneiros de ignorante ao dizer que a Polícia Federal está investigando a associação de prática de crimes contra a organização do trabalho, a segurança dos meios de transporte e outros serviços públicos da greve dos caminhoneiros. Chamam de locaute, termo utilizado pelo ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, que apontou na possibilidade de prática ilegal por parte das empresas de transporte.
Por mais que a Imprensa se diz imparcial todos sabemos que a subjetividade sempre esteve ali, basta que observemos nas entrelinhas.
Outro ponto que devemos considerar, e não é menos importante, é essa busca por um culpado. Todos nós somos culpados. Se o Brasil sofre com essa barbárie é porque fomos equivocados e votamos naqueles que trazem soluções imediatistas. Se é tão fácil porque nunca resolveram?
Qualquer pessoa que tenha consciência sobre a economia brasileira sabe que os impostos tanto estaduais como federais uma hora ou outra haveria de ter reajuste. Não existe nada de graça. Para baixar o imposto do biodiesel será preciso aumentar o imposto de outro produto. É assim que a economia funciona.
Ninguém gosta de pagar impostos, mas é assim que o mercado gira. Não estou aqui defendendo o governo, pelo contrário, repúdio. Mas a gente precisa analisar os moldes como são de fato.
Como se sabe, a arrecadação do ICMS é dividida em várias áreas, como para incentivo à cultura, como nos salários de professores, enfim, o impacto será em todos os setores. Uma reforma tributária seria a solução possível, e não acreditar numa redução de imposto ilusória.
O problema da política brasileira é que ela não pensa estrategicamente. Vimos isso no governo Dilma Rousseff quando subsidiou o preço do petróleo, justamente na época de eleição. O Governo Lula que diminuiu o ISS para que a população tivesse acesso à compra de veículos. Isso aconteceu na década de 70 também quando começaram construir as rodovias. Cada governo tomam decisões, e decisões difíceis, o problema é que não mensuram os impactos.
Não tem como subsidiar por muito tempo o petróleo, ainda mais quando uma Estatal sofre com a crise. Ao diminuir o imposto para compra de carro, mais carros estarão às ruas, mais ruas precisarão serem asfaltadas.
Milagres na economia não existem. É preciso decidir: ou passamos a entender a complexidade da coisa ou vamos continuar a fazer julgamentos morais que não nos levaram a lugar algum. É preciso também fazer perguntas sérias nas eleições: de que moldes os políticos vão votar na câmara os assuntos que estão em pauta que aparentemente parecem simples? Como isso será feito? Para que fim levarão adiante as propostas?
O Brasil é um país onde o interesse mora em primeira instância. A nós, cabe analisar e ponderar tudo o que é proposto e parar de assumir o imediatismo populista como melhor opção.
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Leandro Salgentelli
Leandro Salgentelli nasceu em Jundiaí (SP), em 25 de setembro de 1994. É jornalista e especialista em Cultura Material e Consumo pela USP. Foi vencedor de dois prêmios nos gêneros crônicas. Atualmente, trabalha com assessoria de Relações Públicas Instituicionais.