Riscos que não compensam
À medida que vamos amadurecendo, torna-se natural abrir mão de certos riscos. Não há nada mais ultrajante ao se compactuar com intrigas, arrumar encrenca por tudo que é irrelevante. Está aí um risco que não compensa. Viver já tem sido difícil demais, qual a finalidade de se irritar, remoer ressentimentos presos, àqueles que não foram ditos na discussão?
Um relacionamento que dura há duas décadas. Você sabe que não é mais a mesma coisa, que nos últimos anos ambos mudaram muito, a qual os objetivos não são mais os mesmos. Às vezes falta assunto, ok, há silêncios que se compactuam, mas sempre? Um risco que não compensa é viver a espera de um estupor de um lugar que não tem nada mais a oferecer.
Um risco que não compensa é tentar ganhar vantagem em cima dos outros, fingir uma docilidade que não existe, adular para ter moeda de troca. Nada disso se sustenta, então, por que o risco?
Fazer uma ultrapassagem no trânsito, beber demasiadamente, ficar até altas horas na balada. Corre-se sempre o risco de sofrer um acidente, baixar a glicose, ficar de ressaca e sono em atraso. Podem até ser riscos medianos, a qual cheguemos em casa com vida, mas compensa essa euforia toda?
Assistir a um filme ruim, se dedicar horas a uma série que não vai trazer retorno emocional, insistir em relações tóxicas, em amizades só noturnas, ler um livro de coaching –, nossa, que perca de tempo.
A vida é muito curta para se arriscar naquilo que não vai compensar.
Toquei nesse assunto porque já fiz muito isso, de tentar corresponder expectativas que nem eram minhas, beber sem ter vontade, ir para a balada mesmo sabendo que no dia seguinte perderia dormindo.
Tenho trocado esses prazeres por aquilo que realmente valem a pena. Como abrir um vinho, receber amigos em casa, ficar sozinho, tomar sorvete. O que me espanta são gorduras desnecessárias, palavras jogadas ao vento, o famoso mise-en-scène social.
Amadurecer custa, vamos ficando mais chatos, mais indispostos, mais seletivo. E seleção não é no sentido de excluir pessoas ou lugares, mas, sim, aquilo que não converge conosco.
O joelho ainda não dói, tampouco a coluna, mas se torna recusável tudo aquilo que a intuição grita. Depois dos 25 parece que está mais aguçada, sempre a ouço, vai por esse caminho, vire à direita, coloque uma blusa, olhe como ele te olhou.
Amar compensa, viajar compensa, conhecer pessoas, nossa, nem se fale. Risco compensado é aquele que traz à tona o melhor de nós mesmos, caso contrário, é risco dispensável.
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Leandro Salgentelli
Leandro Salgentelli nasceu em Jundiaí (SP), em 25 de setembro de 1994. É jornalista e especialista em Cultura Material e Consumo pela USP. Foi vencedor de dois prêmios nos gêneros crônicas. Atualmente, trabalha com assessoria de Relações Públicas Instituicionais.